Monday, October 1, 2007

The Score

09.13.07

Harvard Square, 18:30

Fazia uma meia hora que eu estava entretida em uma loja de CDs quando o telefone do Eduardo (que usei enquanto estive em Boston) tocou. Era um tal de Vitor, um brasileiro que me disse que havia acabado de ganhar um par de ingressos para o jogo de futebol daquela noite, Brasil x México.
Quando eu cheguei em Boston soube que a seleção brasileira ia jogar contra o México. Toda turma já tinha seus ingressos. Mesmo querendo ir, eu decidi não gastar os 40 dólares da entrada pois não havia mais cadeiras disponíveis perto do pessoal. Esses, no momento que eu recebi a ligação do Vitor, já estavam reunidos na "concentração", prontos para sair rumo ao estádio. O Vitor estava procurando uma carona, mas eu sabia que o carro estava lotado. Perguntei pra ele quem ficaria com o segundo ingresso e ele me disse, quem quiser ir...
Após algumas ligações para descobrir como chegar no estádio de trem, eu estava indo encontrar o Vitor na estação central. Vitor é um baiano loiro, de olhos azuis, que vive em Boston há três meses. Já está de saída para a Europa, onde vai tentar obter documentação para voltar a Boston com visto. Ele estava dormindo quando seu roommate bateu na porta do quarto dizendo que havia sobrado dois vale-ingresso para o jogo. Vale-ingresso? Isso aí. Nada vem tão fácil... Tínhamos dois vale-ingresso do McDonald's que deveriam ser trocados pelos ingressos oficiais lá no estádio, duas horas antes do jogo, que começaria 20:30.
Por volta das 19:30 estávamos na estação central, para pegarmos outro trem com destino a Foxboro, uma das cidades da Greater Boston, onde está o Gilette Stadium. Uma viagem de 40 minutos que custaria 6 dólares. Ao me informar soube que nosso trem já estava de saída, e que ao chegar na estação deveríamos tomar um táxi até o estádio, que ficava a 6 km dali.
Corremos para a plataforma e entramos direto no trem. Imaginei que os tickets seriam cobrados lá dentro, mas as estações foram passando, as pessoas descendo, e nada de cobrança... OK. Demos o calote sem querer. Um casal embarcou, e a menina usava uma camiseta do Brasil. Antes de eu agir, ela veio até nós e perguntou se queríamos dividir o táxi. OK! Descemos na estação, tudo deserto. Um sedan grande e velho se aproximou e parou do nosso lado. O motorista, muito agitado, foi logo mandando entrarmos no carro e disse que levaria seis pessoas ao estádio por 52 dólares. What?? Tentamos argumentar que o preço estava absurdo para uma corrida curta. Extremamente rude e nervoso, ele disse que todos motoristas nos cobrariam esse valor. Nesse momento, o táxi de verdade apareceu. Vinte dólares até o estádio, cinco para cada um. OK!!
O motorista nos deixou a uns 700 m do estádio. O mais próximo que conseguiríamos chegar de carro, devido ao trânsito. Nesse momento, a bola já estava rolando a uns 15 minutos. Apaixonados por futebol como todo brasileiro, eu e o Vitor adotamos o método "sebo nas canelas" e saímos em disparada rumo ao jogo. Na minha cabeça, haveria um McDonald's na porta do estádio, e eles não negariam trocar os vale-ingresso para dois brasileiros esbaforidos que já haviam perdido metade do primeiro tempo. Porém, não havia McDonald's, mas sim um funcionário do Mc que fazia a troca dos ingressos e, segundo o pessoal da organização, ele tinha ido embora quando o jogo começou. Momento tenso. Tanto esforço pra chegar até ali e não conseguiríamos entrar? Pedi ajuda a uma moça da organização, para que ela tentasse encontrar o funcionário do McDonald's...ele deveria estar em algum lugar. Esperamos alguns minutos e nada de resposta. Foi aí que o Vitor me chamou e se dirigiu para a entrada. Achei que ele ia perguntar alguma coisa para o segurança que recolhia os ingressos, mas ele simplesmente entregou os vale-ingresso com a maior propriedade. O segurança olhou para os vales, pensou por um segundo e fez um sinal com a mão para entrarmos. OK!!! Ao mesmo tempo que arregalei os olhos de surpresa, passei rapidinho pela portaria. Estávamos dentro. Como não tínhamos cadeiras marcadas, fomos para a melhor parte do estádio, bem perto do campo, tentar descolar um cantinho para nós.
Quando estávamos no trem o Vitor me disse, esse jogo vai acabar em 3x1 para o Brasil. Concordei e pensei comigo, o primeiro gol vai ser do México. Dito e feito. Logo que começamos a assistir o jogo, o México marcou o primeiro. Fiquei calma, afinal eu já sabia que seria assim! Ainda no primeiro tempo Ronaldinho cobrou escanteio e Kléber mandou a bola pra rede. No segundo tempo, estávamos sentados nas cadeiras que um pessoal nos disse estarem vazias. Aí foi só admirar nossa seleção jogando. A cada gol do Brasil o estádio vinha abaixo. Até os mexicanos curtiam. Tinha um do nosso lado que não parava de conversar, sabia mais da seleção brasileira do que da mexicana.
Festa da brasileirada. Na saída, churrasco no estacionamento, tudo que nosso povo gosta. Encontramos novamente o casal do trem, para dividirmos o táxi da volta. Mas quem disse que havia táxi? Os poucos que apareceram eram prontamente "atacados" pelo pessoal que precisava. Quando faltava menos de meia hora para o último trem sair da estação, e ainda estávamos perto do estádio, apelamos para planos B e C. Liguei para o Eduardo, imaginando que ele poderia deixar o pessoal na lanchonete que estávamos, nos levar até a estação e voltar para buscá-los. Qual foi minha surpresa ao saber que eles não conseguiam tirar o carro do estacionamento, por causa do fluxo de saída. Descolamos uma carona com um russo e um carioca, que toparam nos levar até Boston por cinco dólares de cada um. Quando nos deixaram em Boston, já éramos amigos e eles não cobraram nada. OK!!!! Pegamos um táxi e cheguei em casa por volta de 01:00. O Eduardo me ligou e adivinha onde estavam? Presos no estacionamento. Chegaram em casa depois das 03:00. Não é só no Brasil que as coisas não funcionam direito.
Pra concluir, eu repito a frase do Vitor. Obrigado McDonald's por fazer valer cada hamburguer que já comemos lá!

5 comments:

Alien 8 said...

Pois é, paguei o ingresso e fiquei muito mais tempo andando pra chegar até o estádio mesmo tendo feito tudo com antecedência e vc acabou se dando bem melhor no jogo. Ótima a estória do jogo, essa vai ficar pra sempre tipo fificalé.

Eduardo.

Augusto Ouriques Lopes said...

Já foi dito que Boston é o terceiro mundo dos EUA. Sei não. Mas realmente a sua história poderia ter acontecido em São Paulo, não é nao?

JAIRCLOPES said...

Guria! Você não fez jornalismo por que? Tua "reportagem" poderia se chamar "Um dia de futebol em Boston" e ficaria bem em qualquer revista. Parabéns

Bran said...

Já comentaram tudo.Inclusive que vc seria (ou será?) uma ótima jornalista.Restou meus parabéns.Beijos Marina.

Má Mosol said...

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