Thursday, November 29, 2007

A saga da reunião

29.11.07

Toda poeira que levanta quando ninguém menos que o Led Zeppelin anuncia uma apresentação ao vivo.


Quando John Bonham morreu engasgado no próprio vômito, o destino selou não apenas o fim da vida e da carreira de um baterista único, mas também o fim de uma banda que ocupa um dos tronos mais bonitos e importantes na cúpula master do rock. Era setembro de 1980 e, dois meses depois, o Led Zeppelin confirmou o encerramento de suas atividades, por considerar Bonham insubstituível.
Desde então, todos os dias, súditos da nação roqueira encontram conforto para o duplo luto no legado zeppeliniano. São oito álbuns de estúdio, três ao vivo e mais uma série de remasterizações e compilações.
Durante sua existência, o Led sempre manteve ativa uma postura agressiva de gravação de álbuns e shows e uma postura arredia em relação a imprensa. Pré-planejada ou não, essa atitude ajudou a reforçar o misticismo e mistério acerca da banda, principalmente no quesito sexo e drogas (o rock'n'roll não era segredo para ninguém). Quem nunca ouviu a famosa lenda do peixinho que se tornou um tubarão vivo?

Depois do fim, os remanescentes da banda se apresentaram juntos apenas três vezes. A primeira foi em 1985, na Philadelphia, no Live Aid, onde tocaram com Phil Collins para 90.000 pessoas. Nas palavras de Jimmy Page, a apresentação foi um desastre. Anos mais tarde, a banda não permitiu a inclusão das imagens dessa apresentação no DVD do concerto, lançado em 2004. Ao invés da autorização, preferiram mandar uma doação para o Live Aid. O Phil deve ter ficado sentido. Apareceram novamente em 1988, no aniversário de 40 anos da Atlantic Records, agora com Jason Bonham, o filho de John, na bateria. O terceiro encontro foi no casamento de Jason.

Em setembro desse ano, o Led Zeppelin anunciou que se reunirá, mantendo a formação com Jason na bateria, para uma apresentação ao vivo em um concerto realizado para arrecadar fundos para a Ahmet Ertegun Fundation, que patrocina bolsas universitárias no Reino Unido, Estados Unidos e Turquia. Ahmet Ertegun, falecido em dezembro de 2006, foi o fundador da Atlantic Records, e sempre teve uma relação de amizade com o Led.
Antes mesmo do anúncio oficial do show, muita gente começou a ficar em polvorosa com a possibilidade de ver os Caras. O show foi confirmado, à princípio, para o dia 26 de novembro, na O2 arena, em Londres, e os ingressos foram colocados a venda por 125 libras (R$ 464) cada, limitados a dois por pessoa. Mas não adiantava montar acampamento na fila para comprar... quem tivesse interesse em ir precisava se cadastrar no site Ahmettribute.com, e um sorteio escolheria aqueles que poderiam comprar. O site congestionou completamente, e estima-se que 20 milhões de pessoas tenham tentado se cadastrar para disputar 18.000 ingressos.
Nessas alturas, já estavam rolando muitas especulações a respeito de uma possível volta da banda, todas negadas pelo promoter Harvey Goldsmith, que afirmava não haver interesse da parte deles em voltar, mas que todos estavam gostando de trabalhar juntos e estavam preparando uma apresentação de duas horas.
Enquanto isso, na radio britânica WNYC, Robert Plant afirma que a reunião da banda fez ele se sentir como o Superman, mas pelo jeito ele não estava se referindo à parte super poderosa: “Eu só espero que todos se divirtam. Vamos encarar. Tantas pessoas querem ir ao evento, e se for fantástico? A antecipação está me oprimindo incrivelmente. Eu a estou carregando como um tipo de kriptonita, sabe? E tudo que eu quero é me divertir um pouco".


No dia 01 de novembro um comunicado afirma que o show seria adiado. Motivo: Jimmy Page quebrou o dedo e precisa ficar longe da guitarra por três semanas. Ele anuncia, “Estou desapontado que fomos forçados a adiar o concerto por duas semanas. No entanto, o Led Zeppelin sempre estabeleceu padrões bem altos para nós, e sentimos que esse adiamento vai permitir que minha lesão cure propriamente, e nos permitir tocar no nível que tanto a banda quanto nossos fãs sempre foram acostumados”. Uau!
É claro que quem não gostou nada dessa história foram aqueles que já haviam comprado passagens e reservado hotel ou, pior, os que não podem comparecer à nova data. Para esses casos, a instrução era comparecer ao ponto de venda para resgatar o reembolso. Será que alguém teve coragem?
Cinco dias depois de anunciar o adiamento do show, Jimmy Page revela como quebrou seu dedo, em uma queda no jardim da sua casa. Jimmy também dá a entender que toparia fazer mais shows do Led Zeppelin, pensando em todas as pessoas que gostariam de assisti-los, mas que compreende o porquê de alguns dos outros membros não quererem sair em turnê. Robert Plant é categórico. Em entrevista ao Daily Express ele manda: “Precisamos fazer um último grande show, porque fizemos alguns shows, e foram todos um lixo”. “ Quando eu retorno das turnês, fico chocado ao encontrar muitos de meus amigos indo para a cama muito cedo, e isso significa que eu provavelmente devia estar fazendo o mesmo. Talvez eu deva parar de me divertir e ficar velho”.
Dia 05 de novembro, no fim de tarde, o Led Zeppelin “domina” alguns locais movimentados em Londres, como Trafalgar Square e Covent Garden, projetando áudio e vídeo em prédios. Os vídeos mostraram imagens de performances clássicas de Black Dog, Whole Lotta Love e Kashmir. É um aquecimento para o lançamento de Mothership, uma compilação de dois discos, com 24 sucessos. No dia 12 de novembro, a coletânea foi lançada e todo catálogo do Led foi disponibilizado para compra em formato digital. Na semana seguinte, Stairway To Heaven aparece no número 37 das paradas britânicas. Trinta e seis anos depois de seu lançamento, um dos maiores sucessos do Led está no Top 40 pela primeira vez.
As ações que ajudam a deixar menos tristes aqueles que não poderão presenciar o encontro não acabam aí. No dia 20 entrou no ar um novo website, recheado de informações e interativo, onde os fãs podem publicar resenhas ou fotos. Também foi relançado com material inédito o CD e DVD The Song Remains the Same, o primeiro vídeo do Led, que foi gravado durante três apresentações no Madison Square Garden em 1973.

No meio de tantos acontecimentos, Page se manifesta novamente e confirma que seu dedo está se recuperando bem. Confessa que antes de confirmarem o show ensaiaram juntos algumas vezes, para verificar se estava tudo “ok” e que os ensaios foram ótimos. Conta que no show tocarão uma música nunca executada ao vivo antes, mas dá uma dica pouco esclarecedora: “A música é de quando a banda estava junto entre 1968 e 1980. É um numero realmente intenso”. Ele também demonstra, novamente, que podem estar pensando em uma turnê ao deixar claro que todos ficaram realmente espantados com a demanda de ingressos, mas mantém sua posição dizendo que farão esse espetáculo e verão o que acontece depois. Porém, longe dali, em Cincinatti, Ian “dei com a língua nos dentes” Astbury, vocalista do The Cult, solta essa no final de um show: “Estaremos de volta no próximo ano, porque vamos fazer os shows de abertura da turnê de uma banda que talvez vocês tenham ouvido falar. O nome começa com L e tem um Z”. Um fã na platéia se pronunciou: Led Zeppelin! Ian balançou a cabeça afirmativamente, e ergueu um braço para o alto, comemorando. Logicamente, os relações públicas das duas bandas insistem que nenhuma decisão foi tomada.


No final de outubro Robert Plant lançou, em parceria com Alison Krauss, o álbum Raising Sand. Alison é uma popular cantora de bluegrass, música americana de raiz. O álbum é muito bonito e bem produzido, mas o estilo passa longe da eletricidade do Led Zeppelin.
Aos fãs do Led, resta torcer para que a alma roqueira de Robert, que sabemos ser furiosa, desperte durante o show no dia 10. Assim, no próximo ano, ele pode saciar sua necessidade de calmaria ao lado da bela Alison, mas também incendiar palcos e platéias novamente à frente do incomparável Led Zeppelin. Assim esperamos!



ledzeppelin.com

7 comments:

Anonymous said...

- posso acreditar que esse texto foi pra mim também? - Estou impressionado com o seu trabalho Má.. conseguiu reunir informações que eu ouvi soltas no rádio e acrescentar outras inéditas para mim com uma dose de paixão pela música de forma a proporcionar prazer em quem lê! Não adianta escrever mais porque não conseguirei expressar com palavras o meu apreço por ti. Acredito que o melhor gesto é um brinde com um copinho americano cheio de cerveja gelada, olhar bem no fundo do colorido dos seus olhos e sorrir com a mais profunda satisfação! Beijos saudades!

mutantes no país dos baurets said...

Ótemo, mãe!
Eles podiam, né... uma turnezinha... passadinha no Brasil...
fácil fácil.

Unknown said...

To pensando em largar a minha carreira de sucesso e ser feliz também! Tem muita felicidade nesse post gigante q vc escreveu

Má Mosol said...

Rô, esse texto foi feito pra você e pra todos que eu amo, é por isso que tem muita felicidade nele, Fernando!!!

Obrigada pelos comentários que me deixam em plena alegria.

Apareçam sempre!!!!

Augusto Ouriques Lopes said...

Este texto entrava em qualquer caderno de cultura de uma Folha de São Paulo.

Anonymous said...

Caramba, meus parabéns, fazia tempo que eu não lia uma matéria tão boa sobre o Led Zeppelin... Já sei que vc é uma pessoa de palavra, suas promessas são cumpridas... Então mas agora fica a torcida para uma turnê, pq sei que se eles sairem de turnê eles virão para cá, principalmente pq o Jimmi Page tem uma ótima relação com o Brasil, a esposa dele é brasileira...
Já começam então as orações rsrsrsrs
E novamente parabéns!!!!

Anonymous said...

Tô orgulhosona. O nível tá muito alto por aqui!!

contador